domingo, 23 de maio de 2010

Polícia do "morro" supera a do "asfalto"


Em algumas favelas do Rio, unidades pacificadoras têm mais PMs que bairros vizinhos, como Copacabana

Sucesso do projeto faz governo redefinir ocupação; "UPP não é solução para tudo", diz secretário da Segurança


ITALO NOGUEIRA
DO RIO

Garantir o funcionamento da creche no alto da favela Dona Marta, zona sul do Rio, foi o pontapé inicial involuntário para a principal bandeira da política de segurança do Rio. No ano e meio seguinte, a pacificação de favelas ganhou metodologia e fama.
Mas, ao mesmo tempo em que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) já contam com mais policiais do que bairros vizinhos, a Secretaria de Segurança busca conter a euforia e limitar o poder de alcance do projeto.
A ocupação inaugurou nova fase em abril. Avança sobre conjuntos de favelas na Tijuca (zona norte) e expõe novos pesos da balança do policiamento do Rio.
As seis UPPs que a secretaria pretende instalar em favelas da Tijuca e bairros vizinhos vão absorver 1.720 soldados recém-formados (regra para trabalhar na unidade), resultando em 26 PMs para cada mil habitantes.
Isso supera o efetivo de 1.424 agentes à disposição dos dois batalhões "do asfalto", onde a taxa é de 1,5 PM para mil moradores.
Na zona sul, a balança também pende para o programa. Nas três unidades que atendem às seis favelas de Copacabana e Leme há 404 policiais; no policiamento dos dois bairros, são 381.
A secretaria diz ter optado por um cenário "pessimista" para "garantir territorialmente a ocupação do espaço público". Vai rever o efetivo das UPPs a cada três anos.
O governo agora tenta conter o otimismo exagerado após o fim do controle criminoso em 15 das mais de 900 favelas. No mês passado, a secretaria reuniu a cúpula da polícia para harmonizar conceitos sobre UPPs.
"UPP não é solução para tudo. O objetivo é tirar a arma de guerra. Reduzir o tráfico é consequência. Com policiamento [na favela], posso fazer prevenção e investigação", diz o secretário José Mariano Beltrame.
"Bocas de fumos ostensivas acabam. Mas a venda de droga sempre vai existir enquanto houver consumo", afirma Roberto Alzir, superintendente de Planejamento Operacional da pasta.

INÍCIO

A ocupação da pequena favela Dona Marta, em dezembro de 2008, foi feita a pedido do governador Sérgio Cabral (PMDB). Ele queria que uma creche, construída dois anos antes, pudesse finalmente funcionar.
Na Cidade de Deus, favela com mais de 40 mil pessoas, a ocupação foi iniciativa do comandante na área.
Após o sucesso das ações, a pasta decidiu abraçar num só programa a pacificação de favelas. Apontou como destino 92 áreas da região metropolitana -47 prioritárias, que vão demandar 12.500 PMs, aumento de 29% do efetivo atual de 38 mil homens.

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