domingo, 24 de janeiro de 2010

Delegado ameaçado de demissão diz que secretário o persegue

Policial, que é filho de Sérgio Paranhos Fleury -diretor do Dops na ditadura militar-, afirma ter sofrido "tortura psicológica"

Paulo Fleury foi à sede da Segurança Pública, com câmera escondida, para gravar um delegado que viu conversa dele com o secretário


DA REPORTAGEM LOCAL

Prestes a ser demitido da polícia, o delegado Paulo Sérgio Óppido Fleury (filho de Sérgio Paranhos Fleury, diretor do Dops -Departamento de Ordem Política e Social-, morto em 1979) tenta reagir contra o que chama de "perseguição e tortura psicológica" por parte do secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto.
Na última semana, Paulo Fleury protocolou pedidos de providências na Procuradoria Geral de Justiça e no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, contra o secretário.
Nos documentos, ele o acusa de assédio moral, "tortura psicológica" e também pede que o secretário seja afastado.
Paulo Fleury, que está há 33 anos na polícia, afirma que Ferreira Pinto mantém uma campanha para demiti-lo da corporação. Com os pedidos, ele tenta ganhar tempo para conseguir a aposentadoria antes.
A base das representações de Paulo Fleury é um encontro ocorrido com o secretário em abril do ano passado e no qual ele diz ter sofrido intimidação.
Nesse encontro, segundo a versão do delegado, Ferreira Pinto teria caminhado em sua direção e dito "não passa vontade". O delegado afirmou à Folha não saber o motivo de o secretário ter dito isso a ele.
Dentro da polícia, a versão para a frase foi uma reação ao fato de que Paulo Fleury teria espalhado que precisava ser feito algo contra Ferreira Pinto.
Um oficial da PM e o delegado Marco Antônio Ribeiro de Campos estavam no gabinete do secretário quando aconteceu o encontro.
Dias depois, Fleury voltou à sede da secretaria e, com uma câmera escondida em uma gravata, gravou uma conversa com o delegado Campos na qual tentou confirmar que havia sido destratado pelo secretário.
O ex-perito do IC (Instituto de Criminalística) Onias Tavares de Aguiar, acusado pelo sumiço de 50 laptops que estavam à espera de perícia em 2005, foi contratado por Paulo Fleury para produzir um laudo sobre a gravação com o delegado Campos e que foi juntado nas representações.
No rol de testemunhas das representações contra Ferreira Pinto, Paulo Fleury citou os nomes, entre outros, dos também delegados Ruy Ferraz Fontes e Alberto Pereira Mateus Júnior, que eram do Deic, já tiveram prestígio na polícia paulista e hoje estão em cargos de menor relevância. À Folha, Fleury disse que tanto Fontes quanto Mateus Júnior sofrem o mesmo tipo de pressão que ele por parte de Ferreira Pinto.
As principais investigações contra o delegado Paulo Fleury na polícia começaram antes de Ferreira Pinto assumir a pasta, em março de 2009.
Quando estava na Delegacia de Turismo, Fleury foi acusado de apreender câmeras de vídeo que haviam sido furtadas e não registrar o encontro; já na Delegacia Antipirataria, o delegado presenteou escrivãs de uma juíza com bolsas falsificadas da marca francesa Louis Vuitton e mantinha uma empresa particular que cobrava para combater pirataria.
Procurado, Ferreira Pinto não quis se manifestar. A presidente da Associação dos Delegados de SP, Marilda Aparecida Pansonato Pinheiro, que assumiu o posto no dia 11, estava em viagem e não foi localizada para falar sobre as ações da Corregedoria contra delegados no Estado. (ANDRÉ CARAMANTE)

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