domingo, 24 de janeiro de 2010

"Ex-xerife" do combate ao PCC está na periferia


Ruy Ferraz Fontes foi colocado na "geladeira" depois que surgiram suspeitas contra policiais da sua equipe

Um outro caso que chama atenção na polícia é o de um delegado que, anos atrás, foi flagrado por superiores ao circular em uma Ferrari

DA REPORTAGEM LOCAL

As recentes mudanças na Polícia Civil de SP têm atingido até mesmo policiais como o delegado Ruy Ferraz Fontes, o xerife do Deic (departamento de roubos), considerado durante anos como o número 1 no combate à facção criminosa PCC.
Com grandes divergências com o secretário da Segurança Pública de José Serra (PSDB), Antonio Ferreira Pinto, Fontes foi sacado da chefia da 5ª Delegacia de Roubos a Bancos e, hoje, está à frente do 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela), no extremo leste de SP.
O 69º é um distrito onde quase nenhum policial quer trabalhar. É muito distante do centro, tem pouca estrutura e atua em uma das áreas mais violentas da cidade. Questionado sobre o seu afastamento do posto de destaque no Deic, onde constantemente comandava ações com grande exposição na mídia, Fontes disse ter sido ele que pediu a transferência.
Nos bastidores da polícia, a história que se conta é outra. Fontes teria perdido prestígio depois que policiais de sua equipe começaram a ser investigados por suspeita de extorsão de dinheiro de criminosos, inclusive membros do PCC.
Em um dos casos, o investigador Wilson de Souza Caetano foi preso em flagrante há um mês sob acusação de exigir R$ 300 mil de um suspeito de estelionato, que teve seus bens apreendidos irregularmente. A Folha tentou localizar, sem sucesso, o advogado de Souza para ouvir sua versão sobre o caso.

Ferrari
Um outro caso que chama atenção na chamada operação de depuração da Polícia Civil é o de um delegado que, anos atrás, foi flagrado por superiores ao rasgar as ruas do Jardim Europa a bordo de uma Ferrari.
Espantado com a cena, o chefe do delegado à época mandou ele se desfazer do carro para não chamar atenção. O nome desse policial está na lista dos que hoje estão na mira da Corregedoria, mas é mantido em sigilo, pois o caso ainda está na fase de apuração de provas.
Num outro caso ainda mais curioso, um policial aposentado, também investigado, costuma se gabar de ser dono de uma pequena vila na Itália.
A Corregedoria encontra dificuldades de obter provas de enriquecimento ilícito contra esses delegados porque eles normalmente usam nomes de "laranjas" ou parentes para registrar os bens.
Outro problema da Corregedoria é que muitas apurações foram retardadas e até comprometidas por antigos funcionários do órgão, hoje afastados pelo secretário Ferreira Pinto. Suspeita-se que recebiam propina de policiais para avisá-los sobre investigações e, em casos mais graves, retardá-las.
Hoje, sem as históricas interferências corporativas, a Corregedoria até consegue desenvolver ações como a que atinge o investigador Renzo Borges Angerami, filho do número 2 da Polícia Civil, o delegado-geral-adjunto Alberto Angerami.
Renzo é investigado sob a suspeita de tentar extorquir R$ 300 mil de um suposto estelionatário (no mesmo caso citado acima, do policial Caetano).
Renzo foi transferido do Setor da Investigações Gerais da 4ª Seccional Norte (central da Polícia Civil) na zona norte para a de São Bernardo do Campo.
A reportagem tentou, mas não conseguiu localizar Renzo na sexta-feira. Seu pai, o delegado-geral-adjunto Alberto Angerami, disse que o filho não tem participação na extorsão e não é investigado por nenhum crime. (ANDRÉ CARAMANTE)

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