domingo, 17 de junho de 2012

Absurdo em SP: Com arrastão, policiais vendem segurança - Cidade

Do jornal da Tarde


Categoria: GeralSegurança
Adrina Ferraz, Artur Rodrigues e Denize Guedes
A reação foi imediata. Foi só a onda de arrastões a restaurantes e bares se alastrar pela capital paulista para grupos de policiais civis e militares e agentes penitenciários usarem o medo despertado pelo crime para venderem “segurança” aos comerciantes. Muitas vezes, a proposta chega a ser feita até durante o registro de uma ocorrência.
Considerada ilegal, a prática é de conhecimento da Secretaria da Segurança Pública (SSP). O delegado-geral da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, classifica esse tipo de conduta como “extremamente preocupante”. “Nessa situação, muito aproveitador tenta vender algum produto. A polícia não pode fazer esse tipo de abordagem, porque cria um constrangimento”, afirma o delegado.


Em reunião com donos de restaurantes na última semana, Carneiro disse que alertou os comerciantes sobre como agir durante essas abordagens. “Se esse policial começa a dizer que sem a ação dele lá podem acontecer roubos e começa a criar um clima de terror, orientamos o comerciante a procurar a polícia.” Carneiro afirmou que isso não deve ser tolerado, porque, no passado, originou milícias parecidas com as que atuam no Rio.
A atuação dos grupos ocorre justamente em alguns dos bairros que passaram a ter o efetivo ampliado em dias de festa por ordem do governador Geraldo Alckmin (PSDB), como Jardins e Itaim-Bibi, na zona sul, e Pinheiros, na zona oeste. A medida começou na terça-feira, Dia dos Namorados.

Na última semana, o Jornal da Tarde visitou restaurantes nessas três regiões. Em todas, proprietários disseram ter sido abordados por policiais. “Já veio gente de todo tipo aqui: PM, ex-PM, representante de empresa de segurança”, conta Augusto Mello, dono da cantina Nello’s, em Pinheiros, assaltada no início de fevereiro.
Mello não aceitou as propostas. Ele acredita ser do poder público a responsabilidade por dar segurança à população. Após o arrastão, porém, ele comprou câmeras mais modernas.

Prisões
Parte da quadrilha apontada como responsável pela maioria dos crimes foi presa na noite de terça-feira, mas a ação ainda não foi suficiente para aumentar a sensação de segurança. Neste ano, foram pelo menos 17 arrastões a bares e restaurantes na capital.

Quem contrata serviços de policiais consegue privilégios em relação ao restante da população. Dessa maneira, o policiamento ocorre de forma mais ostensiva nos endereços atendidos por agentes em horário de folga. Quem paga pode até contar com informações privilegiadas da polícia, seja por rádio ou contato direto nas delegacias. Também há casos de ex-policiais e informantes que se passam por policiais – na tentativa de valorizar seus passes.
A SSP informa que, por lei, policiais só podem ter outras funções quando relativas à área de ensino e difusão cultural. Denúncias podem ser feitas às corregedorias e pelo Disque-Denúncia (181).

Máfia
Para o jurista Wálter Maierovitch, a prática se assemelha aos métodos usados pela máfia italiana. “Vender proteção para as pessoas não serem assaltadas é característica comum aos mafiosos”, diz.
Segundo Maierovitch, há uma linha tênue entre a proteção que se quer vender e a extorsão. “Para mudar isso, só com planejamento policial e reforço todos os dias da semana, não apenas em datas festivas.”

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