"O crime é de todos", diz Mariz de Oliveira | Brasilianas.Org
Do blog de luisnassif
Por Bruno de Pierro, da Agência Dinheiro Vivo
“As costas dos policiais não devem receber, exclusivamente, a carga que é de todos nós”. Foi com essa expressão que o advogado criminalista e ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, introduziu sua apresentação no 14º Fórum de Debates Brasilianas.org, que discute a Segurança Pública hoje em São Paulo. Mariz enfatizou, com essa explicação, que, na verdade, o crime não é um entidade que está apartada da sociedade. “O crime é nosso, é gerado no seio da sociedade”, completou.
o contrário de 30 ou 40 anos atrás, quando a maioria dos crimes eram praticados por castas menos favorecidas economicamente da sociedade, hoje a o crime atinge todos os estamentos da sociedade. Segundo Mariz, o crime não pode mais ser visto pela óptica do fato acontecido, mas sim como trabalhar para evitá-lo. E isso deve mobilizar toda a sociedade. “A Polícia Civil e a Polícia Militar não são responsáveis exclusivas pelo crime e nem como evitá-lo”.
Contudo, quando o crime ocorre, a sociedade pede a prisão, a única resposta que surge. De acordo com o advogado, é preciso mudar essa mentalidade. “Nunca se investiu tanto na prisão, e tão pouco na liberdade”, disse.
Um ponto muito explorado por Mariz foi como algumas tradições da cultura brasileira contribuem para a construção do cenário violento atual. Citando a “malandragem brasileira”, um “caldo cultural perigosíssimo”, o ex-secretário explicou que as pessoas, logo cedo, são incentivadas, no âmbito familiar e escolar, a praticarem condutas que valorizam meios eficientes para “se dar melhor” individualmente. Isso, segundo Mariz, deságua na corrupção.
A responsabilidade da televisão
“Há uma cultura por levar vantagem e uma punitiva. Isso tudo tem uma responsabilidade que deve ser atribuída a um grande veículo de aculturação que chega aonde a escola não chega, que se chama televisão”. Para Mariz, a televisão representa um fator de desagregação, ao deixar de lado seu objetivo de melhorar o padrão ético do povo, e teatralizar o crime, colocando-o unilateralmente - ou seja, não informando o que deveria informar, os princípios constitucionais que regem o Estado.
Com essa cobertura que busca o extra-ordinário, a estrutura básica da sociedade fica com uma visão unilateral, e o princípios do contraditório se torna somente uma “perfumaria”, dentro de um sistema irracional midiático.
Para Mariz, é preciso que se faça uma modificação de visão do fenômeno criminal. “O crime não pode ser visto como algo que já foi, mas sim como algo que não pode ser”, observou. Para concretizar a análise, o advogado citou que há vários juízes e juízas que tem medo da imprensa, que, por sua vez, lidera uma campanha para desmoralizar o Judiciário. Explicou, porém, que sua crítica não se dirige ao bom jornalismo. “É sim importante que a imprensa investigue as mazelas do Judiciário, e há boas investigações nesse sentido, mas a imprensa não pode ser julgadora, não pode conclamar a íra que alimenta a cultura repressiva”, concluiu.
A violência do não-violento
Uma questão destacada por Antônio Cláudio Mariz de Oliveira foi o que ele chama de “o crime do não-criminoso”. Em outras palavras, trata-se do delito cometido por pessoas que, “por bagatela”, estão matando e que nunca fizeram antes um crime. É o caso de integrantes de torcidas organizadas, motoristas no trânsito, alunos que atiram em professores e colegas, e namoradas que são mortas por namorados ciumentos.
“É uma patologia social, são frustrações resolvidas à bala”, disse. Para o cenário, Mariz argumenta que somente um choque civilizatório, envolvendo Educação, pode livrar o Brasil do caminho dramático pelo qual já se transita.
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