Desafios para uma polícia incorruptível | Brasilianas.Org
Por Douglas Barreto da Mata
Comentando o post "Faltam estudos em prevenção nas políticas de segurança"
O comentário do Ivan Moraes resume, em boa parte, uma visão preconceituosa. Mas por ser preconceituosa não quer dizer que está errada. É verdade que as instituições policiais não inspirem "respeito", mas tão somente medo.
No entanto, o Ivan só esquece de focar seu preconceito contra a própria sociedade, que no fim das contas, está refletida na ação do ramo manu militari do Estado. Como pretender uma polícia confiável e cidadã, justa, planejada, segura, enfim, incorruptível, quando a sociedade que a deseja media conflitos pela violência, hipocrisia, pelo "farinha pouca meu pirão primeiro" ou pelo "jetinho".
Não é à toa que tenhamos índices endêmicos de mortes violentas, que nos alça a condição de região mais violenta do planeta(mais até que áreas em guerra). Essa noção de que a eliminação resolve é legitimada pela sociedade, pela associação comercial. Os grupos de extermínio policiais só captam essa demanda e a atendem. Lógico que causam repulsa quando descobertos, afinal, o diabo são sempre os outros.
No âmbito do "post" é preciso dizer o seguinte: Polícia é ação de Estado, não de governos. Quanto mais governos administrarem a polícia pelos humores da mídia e de certos setores da sociedade(classe média e elites), vinvulada a agenda eleitoral, de nada adianta criar parâmetros para auditar os números e processos. Eles continuarão viciados e com o corte de classe (ideologizados).
Daí, não é leviano supor que esse debate(que é saudável)entre conservadores(legalistas ou duros) e progressistas pode levar a polícia a uma posição esquizofrênica, pois não se universaliza direito humano sem tratar todos os humanos de forma desigual, na proporção de suaa desiguladades, ou seja: É preciso inverter a lógica que considera um furto mais grave que um crime fiscal. É possível encontrar furtadores presos, já sonegadores...
Não haverá polícia que garanta segurança pública como direito do cidadão (ao contrário da proteção ao Estado e das classes que o controlam) sem mudar a estrutura DESSE Estado, e da própria sociedade.
A polícia é tão violenta (ou corrupta) quanto a sociedade que tem que proteger. Não é preciso dados elaborados e intrincados ou teses para saber o óbvio: Nossa política de segurança pública atende a interesses hierárquicos de classe.
Não existe UPP na Vieira Souto ou na Oscar Freire, ou nas lojas chiques que contrabandeiam e sonegam milhões de reais de impostos, ou nas galerias e ruas de bancos e imobiliárias que lavam dinheiro dos "narcos", ou existe?
Douglas da Mata. Inspetor de Polícia PCERJ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário