Opera Mundi - Demagogia com imigrantes nas penitenciárias dos EUA

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Na semana passada, foi exibida uma reportagem no programa NewsHour, da rede PBS, realizada por Alissa Figueroa, estudante de jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley. Nela são descritas as reações em torno das negociações entre o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (Home Land Security) e uma corporação privada para construir uma prisão nas imediações da cidade de Mendota, no estado da Califórnia, cuja administração ficará a cargo dessa mesma corporação.

O local será usado principalmente para abrigar os indocumentados sujeitos a um processo judicial ou à espera de ser deportados. Da reportagem se depreende, no mínimo, um paradoxo. Um dos agricultores entrevistados observou que, embora na Califórnia o índice de desemprego seja de 12%, são os imigrantes, muitos deles indocumentados, os únicos dispostos a cultivar e colher em sua empresa. Em outras palavras, sem a mão de obra indocumentada, seu negócio não poderia funcionar.

O prefeito da cidade de Mendota disse que 93% dos moradores da cidade dependem do emprego oferecido pelas fazendas locais e, por isso, é necessário diversificar a economia. Levando-se em consideração que no ano passado o desemprego saltou para 40% por causa da instabilidade do trabalho, que depende da agricultura, o conselho municipal, encabeçado pelo prefeito, viu com bons olhos a possibilidade da construção da prisão, que ofereceria trabalho permanente a boa parte dos residentes.

A ironia é que, à parte a incongruência do fato de as prisões se transformarem em negócio privado e os presos, em mercadoria - o sistema penitenciário é mantido com impostos e, por isso, o trabalho dos presos deve beneficiar a sociedade, e não uma corporação -, a prisão provavelmente será usada justamente para deter aqueles que trabalham no campo, na maioria indocumentados, hoje os únicos que aportam recursos à cidade.

O tema beira a loucura se consideramos que, quanto mais presos (indocumentados neste caso) estiverem na prisão, mais rentável ela será para a empresa que a administra, mas maior será o dano à agricultura. Segundo um dos fazendeiros entrevistados, o mais provável é que os trabalhadores se sintam ameaçados e se afastem da zona diante da possibilidade nada remota de ser os próximos hóspedes da prisão.

Enquanto isso, o exemplo da lei Arizona se difundiu e agora foram aprovadas medidas similares na Geórgia e Utah. Como no passado, a crise econômica intensifica os sentimentos xenófobos, com a novidade de que agora eles também são motivo de decisões absurdas, como a de privatizar o sistema carcerário, como ilustra o caso da cidade de Mendota.
Além da demagogia às custas dos indocumentados, agora se inventam novas maneiras de lucrar às custas deles.


*Artigo publicado originalmente no jornal mexicano La Jornada e reproduzido no site Rebelión.