quinta-feira, 6 de maio de 2010

Preso pela PF é ligado aos Tuma há 30 anos

Acusado de importar ilegalmente celulares, Paulo Li auxiliou campanhas eleitorais da família do secretário nacional de Justiça

Naturalizado brasileiro, chinês tem papel tido como entre pequeno e médio em esquema de contrabando que opera em São Paulo


MARIO CESAR CARVALHO
FLÁVIO FERREIRA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O chinês naturalizado brasileiro Li Kwok Kwen, de 53 anos, conhecido como Paulo Li e preso pela Polícia Federal no ano passado sob acusação de importar ilegalmente telefones celulares, mantém relações com a família Tuma desde os anos 80.
Naquela década, quando o atual senador Romeu Tuma (PTB-SP) era superintendente da PF paulista, o chinês deu aulas de kung fu na sede paulista do órgão. Li tem uma academia na Liberdade, em São Paulo.
A partir de 1995, quando Tuma se lançou ao Senado, Li ajudou em campanhas políticas dos Tuma. Até hoje, Paulo Li é o elo da família com a comunidade chinesa. Dois filhos do senador tiveram carreira política: Robson foi deputado federal (2002-2005) e Romeu Tuma Jr., estadual (2003-2006).
Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" revelou que uma investigação da PF do ano passado encontrou indícios de que Tuma Jr., hoje secretário nacional de Justiça, auxiliou Li a regularizar a situação de chineses que viviam clandestinamente em São Paulo. Gravações da PF mostram Tuma Jr. pedindo celulares para Li.
Policiais da PF ouvidos pela Folha sob a condição de anonimato disseram que é exagero qualificar Li como líder da máfia chinesa em São Paulo. Ele ocuparia um papel entre médio e pequeno no contexto dos esquemas de contrabando que operam na capital paulista.

A prisão
A investigação sobre Li começou em 2009 de forma casual. A PF investigava um agente federal lotado na superintendência paulistana quando percebeu que ele mantinha contatos com outro colega que dizia, ao telefone, ter condições de resolver problemas de vistos para estrangeiros no Brasil.
As conversas do segundo o policial, por sua vez, levaram os investigadores à família Li. Foram autorizadas interceptações telefônicas e de e-mail -a Operação Wei Jin foi colocada em andamento.
Seis meses depois, em setembro, o procurador da República em São Paulo Marcos José Gomes Corrêa, que acompanhou o caso, representou à Justiça Federal pela prisão de Li e seus três filhos, Renato, 28, André Man Li, 26, e Marcelo, 24.
O esquema, segundo as investigações, funcionava da seguinte forma: o grupo recebia telefones celulares por meio de entregas postais por encomenda, o chamado serviço "courier", feito por uma empresa de exportação sediada na China, a Express Mail Service.
Em seguida, os celulares eram adulterados numa empresa de brindes, que acrescentava marcas famosas como Nokia, Sony e Motorola. Os aparelhos eram então despejados no comércio informal.
Um primo de Li, Lee Lap Fai, afirmou, em depoimento à PF, que eram trazidos ao Brasil, em média, 230 celulares por semana. Em setembro também estava sendo formado um estoque para as vendas do final do ano.
A juíza federal substituta da 3ª Vara Federal Criminal de São Paulo Letícia Dea Banks Ferreira Lopes decretou, em 9 de setembro, a prisão preventiva de Li, seus filhos e primo.
Ao mesmo tempo, ela expediu mandados de busca e apreensão contra endereços ligados ao clã, incluindo a academia de kung fu comandada por Li, a A.C.W. Associação Chin Wu, Artes Marciais e Esporte Center do Brasil, que funciona na rua Conselheiro Furtado, na Liberdade.
Nos seis meses de interceptações telefônicas, a PF detectou que um policial militar escoltava o transporte de mercadorias contrabandeadas, e outro servidor público lotado no Ministério Público do Estado de São Paulo teria auxiliado a suposta quadrilha com dados sobre investigações em andamento.
Paulo Li está preso desde então. O inquérito foi tornado ação penal, que tramita na 3ª Vara Federal Criminal.
O caso principal deu origem a dois inquéritos. Um apura possíveis irregularidades na obtenção de vistos e regularização de chineses em situação ilegal no Brasil, e o outro trata de suposta advocacia administrativa atribuída a um policial federal.

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