quinta-feira, 6 de maio de 2010

PM mata mais porque confronto está mais duro, diz comandante

Bandidos mais armados e policiais mais preparados explicam alta de 40% nas mortes em confronto com a PM, afirma coronel

Para Álvaro Camilo, "não há necessidade de alarmes'; "A polícia está chegando mais quando o delito ainda está acontecendo", afirma


ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Álvaro Camilo, disse ontem que o aumento da letalidade da corporação neste ano é sintoma do aumento dos confrontos entre bandidos mais armados e policiais bem preparados.
Para ele, não há motivos para alarme. Todos os casos são investigados pela corporação, diz.
Conforme a Folha revelou ontem, no primeiro trimestre de 2010 o número de pessoas mortas em confronto com a PM subiu 40% em comparação a igual período do ano passado (saltou de 104 para 146).
Já nos 12 últimos meses, a letalidade subiu 54% em relação ao período anterior (passou de 368 para 566), o que coincide com o início da gestão do secretário Antonio Ferreira Pinto (Segurança) e do coronel Camilo, que assumiram os cargos em março de 2009.
No primeiro trimestre, por outro lado, latrocínios caíram 22%, roubos, 13%, furtos, 5%, roubos de veículos, 12%, furtos de veículos, 10% e roubos de carga, 7%.
Leia, abaixo, trechos da entrevista concedida ontem pelo coronel à Folha.



FOLHA - Por que aumentou tanto a letalidade da Polícia Militar?

ÁLVARO CAMILO - Não aumentou tanto. A letalidade aumentou proporcionalmente à ação policial. Além disso, a tecnologia utilizada fez com que a pronta resposta seja melhor. A polícia está chegando mais quando o delito ainda está acontecendo.
Isso fez com que o número de confrontos aumentasse 40% nesse trimestre em relação ao trimestre [do ano] anterior .

FOLHA - Os números de vocês mesmos dizem que o aumento foi inferior a 9%.

CAMILO - É menor, tudo bem. Mas aumentou o número de confrontos. Nesses confrontos percebeu-se uma maior utilização da pistola por parte da marginalidade. Antigamente era o revólver, agora é a pistola.
Apenas em 30% dos confrontos houve evento morte. Na maioria, 70%, as pessoas saem ilesas ou com lesão [feridas].

FOLHA - O sr. acha 30% toleráveis?
CAMILO - O evento morte para nós, em qualquer situação, é ruim. Não consideramos nada tolerável. O ideal seria que não tivéssemos mortes em confrontos. A morte nunca é tolerável, o foco nosso é prender.
Aconteceu a morte, vai uma equipe da Corregedoria da PM, além da abertura do IPM [inquérito policial militar], que vai parar na Justiça. Também há o conselho de letalidade da Secretaria da Segurança. Nosso policial tem de agir dentro da legalidade sempre.

FOLHA - O senhor não recebeu nenhuma reclamação por parte do governo sobre esses números?
CAMILO - Nós estamos trabalhando desde o início para que esse índice não seja elevado. A polícia não deseja o confronto. O policial é bem preparado e a preparação está melhorando cada vez mais.

FOLHA - O coronel da reserva José Vicente da Silva disse considerar essa letalidade motivo para soarem alarmes.

CAMILO - Não há necessidade de alarmes. Com isso eu não concordo. É uma preocupação, mas nós temos que avaliar os casos. O que volto a salientar é nós tínhamos o marginal enfrentando a polícia com revólver calibre 38. Hoje, não. Ele está enfrentando mais, com armas mais pesadas.

FOLHA - Um bandido mais armado não provocaria um efeito inverso? De aumentar as mortes dos PMs?

CAMILO - É o seguinte: ele se sente mais fortalecido. Talvez por sentir-se mais fortalecido, talvez por estar com uma arma mais diferenciada ou mais potente, ele enfrenta a polícia. Aí, encontra um policial bem preparado. Esse é o diferencial.

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