quarta-feira, 19 de maio de 2010

A escalada de violência da PM paulista

Do blog do Nassif
Por ANTONIO CARLOS FON


Nassif,

Mais uma chacina no estado de São Paulo. Desta vez em Campinas, onde quatro pessoas de uma mesma família, a mais velha com 82 anos, foram assassinadas a tiros dentro de casa. Os assassinos, suspeitam os investigadores, seriam policiais militares, em vingança ao assalto que lhes deixou um colega paraplégico.

http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,policia-civil-investiga-envolvimento-de-pms-em-chacina-de-campinas,553379,0.htm

Velho repórter de polícia, especialidade dos primeiros dez dos meus 43 anos de jornalismo, estou assustado com o que está acontecendo na segurança pública no estado de São Paulo: tiraram a focinheira da PM.

Quem primeiro chamou minha atenção foi o padre Agostinho, um monge beneditino que há mais de 40 anos trabalha com a Pastoral Carcerária. Depois foi um delegado de polícia aposentado, mas freqüentador quase diário dos almoços da ADPESP – Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo. Segundo ele, em conflito com a Polícia Civil e diante da necessidade de apresentar São Paulo como uma ilha de tranqüilidade na área de segurança pública, para alavancar a candidatura Serra, o PSDB deu carta branca à PM. O resultado é que o número de assassinatos e outras violências cometidas pela PM paulista explodiu nos últimos meses. Vamos aos fatos?

O que primeiro me fez concordar com o Agostinho e meu amigo delegado aposentado: o assassinato do moto boy Alexandre Menezes dos Santos, diante de sua mãe, por cinco PMs na zona sul da cidade de São Paulo, bastante discutido aqui no blog e que acabou custando a cabeça de um tenente-coronel, comandante do batalhão a que pertencem os PMs.

Dois detalhes me chamaram a atenção no caso: a PM, que recentemente assinou convênio com a Prefeitura de São Paulo para voltar a fiscalizar o trânsito, tentou abordar u motoboy, cuja moto estava sem placa a 300 metros de sua casa. O rapaz fugiu e tentou se refugiar em casa, mas foi seguido pela PM. Diante de sua casa e na frente de sua mãe, o rapaz foi espancado até a morte pelos PMs.

A morte de Alexandre Menezes dos Santos guarda incrível semelhança com dois outros casos ocorridos nos últimos dias e apontados por Padre Agostinho e meu amigo delegado aposentado como exemplos das consequenci8as da política do governo do estado de fechar os olhos para as arbitrariedades da PM, no esforço para apresentar a segurança pública como uma área de sucesso do governo Serra.

A primeira semelhança é com um episódio ocorrido em Sertãozinho, próximo a Ribeirão Preto duas ou três semanas atrás. Lá, também, um motoqueiro não obedeceu às ordens de parar, conseguiu chegar até sua residência mas foi seguido e preso, já dentro de casa. Sua mãe, que tentou defender o filho foi presa e ambos espancados. A mulher quase morreu, desmaiou devido às agressões e teve de ser levada para um hospital e, felizmente, sobreviveu.

Segundo Padre Agostinho, existe denúncia na Ouvidoria da Polícia, quem quiser confirmar é só ir lá e pedir os detalhes, que são públicos.

Quem quiser conversar com Padre Agostinho, ele pode ser encontrado no mosteiro da ordem dos beneditinos em Ribeirão Preto. Se a corregedoria da polícia, o ministério público, a defensoria pública ou a imprensa quiser, Agostinho tem fotos impressionantes dos PMs de Sertãozinho uniformizados não com a farda da PM, mas com camisetas com caveiras no peito, semelhantes aos símbolos usados pelo Esquadrão da Morte na época da ditadura.

O caso de Alexandre Menezes dos Santos é dramaticamente parecido com o também motoboy Eduardo Pinheiro dos Santos, espancado até à morte, menos de um mês anos, no dia 9 de abril, dentro de um quartel da PM na capital paulista.

Os policiais civis estão estarrecidos também com as chacinas das últimas semanas na baixada santista. Resumindo para quem não está familiarizado com o caso: bandidos mataram o PM Paulo Raphael Ferreira Pires no início da noite de 18 de abril, no Guarujá. Nas horas seguintes, cinco jovens foram mortos por um grupo de extermínio formado por PMs e conhecido como “Os Ninjas”. Quando a situação já estava fora de controle, com as mortes de multiplicando o comando da PM mandou novos policiais para a Baixada Santista.

“Mas, em vez da DPM (Delegacia de Polícia Militar, departamento da PM especializado na investigação de crimes cometidos por PMs), mandaram a ROTA”, comenta estarrecido meu amigo delegado. “É como apagar fogo com gasolina. Nos dias seguintes os assassinatos atribuídos aos grupos de extermínio da PM subiram para 23”.

Esse descontrole do governo paulista sobre a PM fica ainda mais evidente diante das estatísticas da própria Secretaria da Segurança Pública paulista. O número de homicídios aumentou na capital paulista no primeiro trimestre deste anos. Uma tendência extremamente preocupante, até porque interrompe uma série de dez anos de redução do número de assassinatos.

Mais preocupante é que, enquanto o número de assassinatos subiu 12%, o de mortos pela PM em supostos confrontos subiu 52% em relação ao primeiro trimestre de 2009. Hoje, ao lado da notícia sobre o massacre da família em Campinas, escondidas na parte de baixo da página C5 do Estadão (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100519/not_imp553581,0.php) um novo dado: o número de mortos pela PM em abril cresceu 100% em relação a 2008 e 29% sobre 2009, ano em que os assassinatos cometidos por PMs já haviam aumentado 75%. O destaque sinistro em abril foi a participação da famigerada ROTA, que matou dez pessoas em abril – mesmo número de todo o primeiro trimestre.

Decididamente, ninguém segura a PM paulista.

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