sábado, 17 de abril de 2010

Juiz diz que não errou ao soltar estuprador

Luís Miranda, que liberou suspeito de matar seis jovens em Luziânia (GO), afirma que não mudaria "uma vírgula" de sua decisão

Em entrevista, magistrado do DF diz que, para conceder progressão da pena a preso, ele se baseou em exames criminológico e psiquiátrico


LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após uma semana de pressões, o juiz Luís Carlos Miranda afirmou ontem que não errou ao soltar o pedreiro que confessou, segundo a polícia goiana, ter assassinado seis jovens de Luziânia (GO) entre dezembro de 2009 e janeiro.
Em sua primeira entrevista desde a descoberta dos corpos dos rapazes, o juiz declarou que não mudaria "uma vírgula" de sua decisão, pois levou em conta o que estava no processo e seguiu "estritamente" a lei.
O pedreiro Adimar Jesus da Silva, 40, que também tinha RGs com outros dois nomes, havia deixado a prisão no Distrito Federal beneficiado pela progressão para o regime aberto.
Após ser condenado a 14 anos de prisão por violentar dois meninos, ele foi preso em 2005 e solto em dezembro de 2009. No intervalo de um mês após sua saída, ocorreram as seis mortes, segundo a polícia.
"Não podemos garantir que as pessoas que vamos soltar não vão cometer crimes. O que podemos garantir é que teremos cautela e isso nós tivemos", disse Miranda, que é juiz auxiliar da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal.

Barbárie
Cercado por outros magistrados, Miranda afirmou que não poderia imaginar que o pedreiro iria cometer os crimes confessados por ele, segundo a polícia. "Se na semana que vem eu soltar alguém que fizer uma barbárie, eu não posso me responsabilizar por isso", alegou.
O juiz argumentou que levou em consideração, para conceder a progressão de regime a Silva, o exame criminológico, feito no início do cumprimento da pena (2008), e também exames psicológico e psiquiátrico realizados no ano passado.
De acordo com Miranda, o exame psicológico apontou que o pedreiro se apresentava "com polidez e coerência de pensamento". O teste psiquiátrico apontou que Silva não tinha doença mental nem precisava se tratar com remédios.
O juiz afirmou também que outras medidas preventivas foram tomadas por ele no caso -as saídas temporárias do pedreiro foram atrasadas até que uma irmã dele comprovasse que não havia criança em casa.
Miranda disse estar "tranquilo" em relação à decisão tomada, mas triste pela tragédia. Ele criticou, no entanto, autoridades que "deveriam se portar com distância em relação ao fato". Durante a semana, diversos ocupantes de cargos públicos afirmaram que houve falha do Judiciário, como o ministro Luiz Paulo Barreto (Justiça).




Promotora culpa DF pela ausência de exame psicológico em assassino de Luziânia


Pedreiro Adimar Jesus confessou ter matado e estuprado seis jovens em Goiás, após sair da prisão

Por Camila Tuchlinski
O caso do pedreiro, que foi solto após cumprir um sexto da pena por estupro de duas crianças em 2005 e matou seis jovens em Luziânia, continua causando polêmica. Nesta sexta-feira, o juiz que mandou soltar Adimar Jesus concedeu coletiva à imprensa, sem câmeras de TV por questões de segurança. Luis Carlos de Miranda, da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, determinou a libertação do pedreiro na época por ter recebido laudos que atestaram a ‘sanidade mental’ de Adimar. ‘Todo juiz, ao soltar uma pessoa, tem o risco de essa pessoa vir a cometer um crime na frente. Isso faz parte da nossa vida’, argumentou o juiz. Segundo ele, não poderia ter sido pedido o reexame do caso por falta de estrutura do sistema: ‘Temos nove psicólogos e dois psiquiatras para cuidar de mais de oito mil presos no DF’.

Em entrevista à Rádio Eldorado, a promotora do caso declarou que, ao ver o perfil do criminoso, já imaginava que haveria reincidência. Maria José Pereira avaliou que Adimar Jesus é um psicopata e tem o seguinte perfil: inteligente, bem articulado, tem um caráter vil e uma índole cruel. ‘Os psicopatas sentem um prazer enorme com o sofrimento de suas vítimas. Eles são os mais perigosos porque não tem noção do que é arrependimento. Se for preciso matar a mãe e fazer ‘picadinho’, eles matam sorrindo’, disse.

A promotora também lamenta a falta de investimentos, por parte do governo do Distrito Federal, no sistema penitenciário da região. Maria José Pereira ressalta que a política do governo é esvaziar presídios, soltando presos indiscriminadamente: ‘O governo fez como o marido traído que pega a mulher com outro homem no sofá - para resolver o problema, vende o sofá. Em vez de colocar quantidade suficiente de profissionais para atender a demanda de presos, promoveu uma alteração na lei dispensando a obrigatoriedade do exame psicológico. O governo não teve piedade da sociedade ordeira que tem de conviver com criminosos perigosíssimos’.

Adimar Jesus continua preso em uma penitenciária de Goiás. O governo estadual teve de transferir o pedreiro do Distrito Federal por conta de represálias dos parentes das vítimas.

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