sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Presos transferidos não devem ter vida fácil em presídio no Paraná

Felipe Amorim | Redação CORREIO

Os 14 integrantes do segundo escalão da facção criminosa conhecida como Comissão da Paz, liderada pelo traficante Cláudio Campanha, embarcaram na quinta-feira (10) num voo com destino ao presídio federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná. A transferência foi motivada pela onda de violência que tomou conta de Salvador desde segunda-feira. Nos últimos dias, bandidos ligados a Campanha atacaram módulos e policiais militares e incendiaram ônibus na cidade, por conta da transferência do traficante para um presídio de segurança máxima em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. “Ao perder as suas lideranças, o seu segundo escalão, sem sombra de dúvida isso enfraquece essa facção criminosa”, observou o secretário de Segurança Pública, César Nunes, que admitiu a pressa na viagem.“Nós já tínhamos essa intenção, mas com esses ataques se fez necessária essa medida emergencial”, revelou Nunes, que acompanhou ontem (10) o embarque dos presos, na Base Aérea de Salvador.

O secretário também confirmou a informação, antecipada pelo CORREIO com exclusividade, de que as ordens para os ataques eram dadas de dentro do presídio por meio de telefones celulares.No entanto, Nunes não especificou qual dos detentos comandava os atentados do interior da Unidade Especial Disciplinar (UED), no Complexo Penitenciário do Estado, na Mata Escura. “Todos estavam participando dos atentados que tivemos nos últimos dias em Salvador, através de celulares e por ordens que foram dadas pessoalmente durante as visitas. Elas partiam de todo o grupo de Cláudio Campanha”.

Ataques
O secretário admite que as transferências não devem ser suficientes para conter os atentados. “Não acredito que acabe com essa onda de violência. Mas essa era uma medida necessária para nós desarticularmos essa quadrilha. E em Catanduvas, sem dúvida nenhuma, eles não terão contato com seus liderados”, assegurou Nunes.

Não está descartada a convocação da Força Nacional de Segurança para fazer frente às ações criminosas, mas, segundo Nunes, por enquanto não será necessário. “Mas se necessário a gente solicita. Segurança pública em primeiro lugar, isso é que é mais importante”, afirma. Dois dos presos embarcaram mais cedo, por volta das 9h de ontem (10), em um voo comercial, escoltados por agentes policiais. A medida foi tomada pois não havia espaço suficiente na aeronave que levou os outros 12. À tarde, o embarque foi feito sob forte esquema de segurança. Três viaturas e dez homens do Centro de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil escoltaram o comboio que partiu da UED.

Escolta
Na base aérea, estavam à espera da dúzia de criminosos dez homens da Força de Segurança Nacional e um turboélice Brasília VC 97, da Força Aérea Brasileira (FAB). O avião, com capacidade para 27 pessoas, decolou às 13h45, com a escolta da Força de Segurança a bordo, levando os membros da Comissão da Paz para uma estada de 360 dias, prorrogável por igual período, em Catanduvas.

As transferências foram autorizadas pelo Ministério da Justiça “em regime de urgência e caráter excepcional”, segundo nota do próprio ministério, por conta dos ataques em Salvador. O promotor da Vara de Execuções Penais Roberto Gomes conta que recebeu a solicitação da Secretaria de Segurança Pública (SSP) na tarde da quarta-feira. Ele deu parecer favorável ao pedido da SSP e solicitou ainda a aplicação do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), para sete dos presos que já foram condenados.
Segundo Gomes, a polícia apresentou provas de que os bandidos pertenciam à quadrilha de Campanha, como uma lista com números de telefones de integrantes da quadrilha de dentro e fora do presídio, outra lista com os carros usados nos ataques e mais uma com a contabilidade da quadrilha, além de escutas telefônicas que comprovam a ligação dos 14 com os atentados.

Conhecidos pela crueldade e audácia
Marcelo Brandão


Os dois principais líderes da Comissão da Paz (CP) que cumpriam pena em penitenciárias baianas eram Renildo dos Santos Nascimento, o Aladim, e Josevaldo Bandeira, Val Bandeira. Recolhido na Unidade Especial Disciplinar (UED), Aladim foi um dos dois integrantes do bando que ordenaram os ataques contra a polícia e aos ônibus, segundo fontes da serviço de inteligência da polícia baiana.

Já Val Bandeira estava preso no Conjunto Penal de Serrinha, distante 173 km de Salvador, onde também teria implantado um braço do CP. Os dois são segundo escalão da quadrilha, mas velhos conhecidos da polícia pelos crimes cruéis e pela audácia. Aladim é apontado como linha de frente do bando, requisitado para atuar na tomada de bocas-de-fumo e na execução dos inimigos, além de ser braço direito de Cláudio Campanha. Veja o perfil dos dez principais criminosos transferidos ontem (10). Também foram levados para Cantanduvas outros quatro integrantes do CP: José Roberto Santos da Hora, o “Robertinho”, Marcos Costa dos Santos, o “Erasmo”, José Henrique Souza Conceição, o “Papa”, e Ademilson Silva de Jesus, o “Missinho'.

Em Catanduvas, presos não terão mole
Carmen Vasconcelos


A penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas, na região oeste do Paraná, será o lar dos 14 traficantes baianos transferidos ontem (10). A unidade foi o primeiro presídio de segurança máxima do Brasil e - junto com as prisões de Campo Grande, Mossoró, Porto Velho e Espírito Santo - integra o complexo federal para abrigar os criminosos mais perigosos do país.

Ao ingressar em Catanduvas, os traficantes baianos percorrerão um longo caminho até suas celas. O roteiro conta com 17 obstáculos e começa no portão de entrada da unidade, que possui duas telas de proteção e um corredor no meio, com cachorros. Ao chegar ao segundo bloco, os detentos passarão por um espectrômetro (aparelho que identifica vestígios de drogas ou explosivos nas roupas de presos e visitantes). É no quarto e último bloco que serão divididos entre as quatro alas, com 52 celas cada uma.

As alas possuem um parlatório para o contato telefônico entre presos e advogados. Tem também pátio de sol coletivo e área coberta para ginástica. Para as visitas, o acesso é restrito a duas pessoas por preso. No complexo prisional - que foi inaugurado em 2006 e custou R$ 22 milhões -, a maioria das 208 celas tem sete metros quadrados, com cama, mesa, banco e prateleira, tudo feito de concreto; um banheiro nos fundos, com pia e vaso também concretados.

A unidade é equipada com detectores de metal, câmeras escondidas e sensores de presença. Cada detento fica em celas individuais com vigilância eletrônica 24 horas. O contato com os demais detentos só acontece no banho de sol diário, em grupos de dez pessoas. Apesar de toda segurança, um relatório da Polícia Federal apresentado em 2007 apontou que o presídio possui falhas, a exemplo de agentes com antecedentes criminais, desvio de conduta e falhas de equipamentos.

(Notícia publicada na edição impressa do dia 11/09/2009 do CORREIO)

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