terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

SP tem queda geral de índices de violência

Apesar da redução nos principais tipos de crimes, as mortes intencionais ainda são problema de saúde pública

Para o comandante da PM, queda se deve à melhora da economia e a investimentos na área da segurança pública

ANDRÉ CARAMANTE
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

Os principais índices de criminalidade caíram em praticamente todo o Estado de São Paulo no ano passado em comparação a 2009.
O número de homicídios dolosos (intencionais) é o menor desde 1999. Também houve queda no número de roubos (5%), latrocínios (roubos seguido de mortes, 16%) e sequestros (13%).
A violência também caiu em 2010 no Rio. Foi a menor taxa de homicídios desde 1991, quando começou a ser feita a estatística da criminalidade no Estado. A taxa de homicídios, porém, é quase o triplo da de São Paulo.
O governo paulista atribuiu a queda da violência à melhoria da economia e a investimentos na segurança. Especialistas, porém, dizem que podem haver outras razões, como a campanha do desarmamento e o envelhecimento populacional.
Em São Paulo, a redução dos homicídios foi puxada principalmente pela Grande São Paulo, onde a queda foi de 14%. Mesmo assim, os números ainda impressionam: foram 4.543 pessoas assassinadas no ano passado contra 4.785 em 2009.

"ZONA EPIDÊMICA"
Apesar da queda, o Estado continua sendo considerado uma "zona epidêmica de homicídios" -para a OMS (Organização Mundial da Saúde), existe uma epidemia quando o índice é superior a 10 homicídios para cada 100 mil habitantes. Em São Paulo, foram 10,48 casos.
Os dados foram divulgados ontem pela Secretaria da Segurança Pública, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) antecipou números sobre homicídios no sábado.
Na ocasião, ele afirmou ver dificuldades para reduzir ainda mais esse número.
Para o comandante-geral da PM, Álvaro Batista Camilo, a redução da violência pode ser atribuída à melhora da situação econômica do país e aos investimentos na segurança pública, desde 1999.
Camilo, diferentemente do que disse Alckmin, acredita que a meta é reduzir a taxa de homicídios para dez casos ou até menos por 100 mil habitantes até o fim deste ano.
Marcos Carneiro Lima, chefe da Polícia Civil, acredita que a redução da violência foi impulsionada por uma maior aplicação da tecnologia às investigações. "Mas ainda temos muito o que melhorar", disse Lima.
"O sucesso na redução da criminalidade depende da continuidade da política de segurança pública", disse Luís Flávio Sapori, especialista em Segurança Pública da PUC de Minas Gerais.
A Folha pediu à Secretaria da Segurança Pública os dados dos principais tipos de crime por região da capital, mas a pasta não forneceu.

"É preciso solucionar crimes", diz especialista

DE SÃO PAULO

Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor do curso de pós-graduação em ciências criminais da PUC do Rio Grande do Sul, Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo avalia que as reduções dos índices criminais de São Paulo se devem aos investimentos feitos pelos governos na última década. Segundo ele, para atingir níveis inferiores a 10 homicídios por 100 mil habitantes, é preciso adotar políticas sociais e de segurança e solucionar mais assassinatos.

Folha -O que os dados divulgados pelo governo representam?
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo - Mostram que, apesar de um pequeno aumento nos homicídios no ano retrasado, há um tendência de queda que vem desde 1999. Eu diria que ainda seria possível pensar que dá para manter essa tendência.


Mas é possível reduzir esse índice de homicídios a menos de 10 por 100 mil habitantes?A grande parte dos países da Europa tem taxas bem abaixo de 10 mortes por 100 mil habitantes. É claro que o Brasil tem características muito específicas, uma desigualdade social muito grande, áreas onde a presença do Estado ainda é bastante precária. Em virtude disso, se forem adotadas políticas sociais, públicas e mesmo de segurança, é possível que tenhamos taxas que beirem os 5 homicídios por 100 mil habitantes.


Os dados sobre esclarecimento de homicídios não foram divulgados pelo governo. Mas sabe-se que vários casos não são solucionados. Esse é um quesito que influencia na redução da criminalidade?Esse é um elemento que deve ser considerado. Especialmente em relação ao homicídio a resolução do caso tem impacto mais importante do que em outros crimes.


O esclarecimento serviria de exemplo para um possível homicida?Talvez mais do que isso. Talvez sirva como prevenção, já que alguns homicidas acabam se tornando assassinos contumazes, que acabam praticando mais de um homicídio. E, se o Estado consegue criminalizar essa conduta e fazer com que essa pena seja aplicada, ele vai acabar tirando de circulação uma pessoa que poderia estar cometendo outros crimes.

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