sábado, 27 de novembro de 2010

Tráfico impede morador de deixar morro

"Não deixam ninguém sair de lá", diz morador do Alemão; objetivo é dificultar ação da polícia

Criminosos espalharam botijões de gás nas ruas à noite para explodi-los com tiros em caso de investida policial

DO RIO

Traficantes do Complexo do Alemão impediram que moradores deixassem suas casas ontem durante a operação policial, como forma de dificultar a ação dos agentes.
À noite, parentes de moradores disseram que os criminosos estavam colocando botijões de gás nas ruas, para que pudessem explodi-los com tiros em caso de investida da polícia.
Ameaçavam também explodir o teleférico que está sendo construído na comunidade e que faz parte das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Moradores que tentavam sair com seus pertences em direção a casas de parentes e amigos eram obrigados a retornar pelas centenas de homens armados que circulavam pelas vielas.
"Os bandidos não deixaram minha mãe vazar. Não estão deixando ninguém sair de lá", disse um morador, pedindo anonimato.
Não só os moradores passaram por momentos difíceis ontem. A dona de casa Jacinta Dias Ferreira, 56, soube por telefone, às 6h, que o filho único, Reginaldo Dias Peixoto, 36, havia sido baleado na Penha, vítima do conflito que aterroriza o Rio.
Motorista de ônibus, ele foi atingido na cabeça enquanto trabalhava na madrugada.
"Meu Deus, que mundo é esse? Quantas mães estão chorando agora como eu? Eu entreguei meu filho nas mãos de Deus e Ele está me atendendo", disse Jacinta, à tarde, depois de visitar o filho no hospital Getúlio Vargas, onde ele foi operado e está em recuperação.
O servente de pedreiro José Pereira voltava para casa, no alto da favela Chatuba, vizinha da Vila Cruzeiro. Era quase meio-dia quando foi atingido por um tiro no pé.
"Quem não tem nada a ver com o assunto é que paga o pato. Isso é chato, chato, chato. É preciso saber quem é bandido e quem é trabalhador", disse Pereira, sem saber se o tiro que o atingiu partiu da polícia ou de bandidos.
Ele foi liberado por volta das 14h, com a perna enfaixada, a bala ainda no pé. Até as 16h30, continuava na porta do hospital, com medo de subir o morro e ser novamente alvo de tiros.
Com medo dos incêndios, empresas de transporte reduziram o número de veículos em circulação de madrugada. Ontem, por volta de 1h, dezenas de cariocas esperavam transporte em direção à zona norte nos pontos ao longo da rua 1º de Março e da avenida Presidente Vargas, no centro.
Nas ruas desertas não se viam ônibus, vans nem táxis. Muitos pareciam ter desistido de esperar e andavam ao longo da Presidente Vargas.
No início da tarde, a Prefeitura do Rio anunciou que moradores da região dos complexos da Penha e do Alemão que não conseguissem -ou temessem- voltar para casa poderiam ficar abrigados no Grêmio Recreativo Industrial da Penha. Lá seria montado um posto com alimentação e colchonetes.

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