Candidato a deputado federal pelo PSC, Ney Santos é investigado por suspeita de usar postos de combustível para lavar dinheiro
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
A análise inicial dos documentos apreendidos na quarta-feira pela Polícia Civil de SP numa operação contra o candidato a deputado federal pelo PSC (Partido Social Cristão) Ney Santos aponta que ele movimenta R$ 6 milhões por mês com sua rede de 15 postos de combustível.
Ex-detento que ficou preso entre 2003 e 2005 por roubo, Claudinei Alves dos Santos, 30, o Ney Santos, é acusado pela polícia de usar seus postos, uma ONG e uma factoring na lavagem de dinheiro e de ter elo com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Desde quando saiu da prisão, Santos juntou, segundo a polícia, patrimônio de mais de R$ 100 milhões.
O candidato teve todos os seus bens bloqueados por ordem da Justiça, inclusive uma Ferrari de R$ 1,4 milhão, por ser suspeito de usar "laranjas" no seu esquema.
A Delegacia Seccional de Taboão da Serra (Grande SP) começou a investigar a denúncia de que Santos cadastrou 100 mil eleitores que passaram por seus postos nos últimos seis meses para trocar combustível por votos.
A polícia acredita que Santos usa seus postos para vender combustível adulterado com a adição de água para "multiplicar" o produto.
Outra suspeita é a de que Santos usa suas empresas para fornecer atestados falsos de emprego a presos que estão no regime semiaberto e precisam estabelecer vínculo empregatício para deixar a prisão de dia e voltar à noite.
Em 15 de agosto deste ano, PMs apreenderam na zona sul de SP um Palio Weekend com 40 tijolos de maconha (34 kg) que, segundo investiga a polícia, iam ser distribuídos em um evento de Santos.
O pedreiro José Maria Moreira Gomes, 26, foi preso com a droga e disse à polícia que a maconha era, sim, para ser dado em um evento da campanha de Santos.
O advogado Francisco Assis Henrique Neto Rocha, defensor de Santos, disse que "as acusações da polícia contra seu cliente são atos desesperados por nada ter sido achado contra ele e também porque Santos será eleito".
O policial civil Luis Fernando Ferreira de Souza, que atua na zona sul de São Paulo, foi identificado como um dos homens que fazem a escolta pessoal de Santos.
Até a operação contra Santos, na quarta, o policial Souza, que está em férias desde agosto, distribuía santinhos com sua foto e a do candidato, a quem declara apoio. Souza não foi localizado.
Um dos políticos que fazem "dobrada" com Santos é o deputado estadual e Said Mourad, também do PSC e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de SP. Procurado, Mourad não atendeu ao pedido de entrevista.
ENTREVISTA
Sociólogo adverte para penetração do crime no país
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
A existência de candidatos ligados a facções criminosas sugere uma nova etapa da estruturação do crime organizado no Brasil, diz o sociólogo Claudio Beato.
Coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, ele teme a "contaminação das instituições políticas" e diz que o remédio está na própria democracia.
Folha - A polícia suspeita que o candidato a deputado Ney Santos (PSC) tenha ligações com o PCC. A penetração na política é uma meta do crime organizado?
Claudio Beato - Estamos assistindo a uma evolução na organização da criminalidade no Brasil. Isso não ocorre só com o PCC. O fenômeno das milícias, no Rio, é outro exemplo de que o crime organizado está buscando representação política. A busca por penetração na Câmara mostra que passamos a uma nova etapa da estruturação do crime.
Isso é preocupante?
Estágios anteriores de estruturação das organizações criminosas levam a problemas para as comunidades. É nessa nova etapa que começa a haver uma contaminação mais acentuada das instituições públicas. Isso é que é muito preocupante. Se olharmos para outros países, sempre vamos achar exemplos de algum momento em que houve essa mistura da política com a criminalidade.
Estamos longe de chegar a uma situação como a que houve na Colômbia cerca de 15 anos atrás. Mas precisamos prestar muita atenção para esse novo fenômeno.
Quando o crime organizado chega a esse estágio de estruturação, que tipo de resposta o Estado precisa dar?
O principal antídoto é o funcionamento das instituições democráticas, tal como está ocorrendo no momento. É preciso identificar claramente o fenômeno, ver quem está envolvido, apontar os elos. Enfim, manter a a polícia investigando e a Justiça funcionando. De uma forma geral, as instituições têm reagido bem.
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