O ex-detento Ney Santos disputa vaga como deputado federal pelo PSC e, segundo polícia, tem R$ 100 milhões
Em operação ontem, policiais apreenderam Ferrari de R$ 1,4 mi; bens de suspeito foram bloqueados pela Justiça
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
Acusado de usar 15 postos de combustível, a ONG Vida Feliz e uma factoring para lavar dinheiro do crime organizado e financiar sua campanha, o candidato a deputado federal pelo PSC (Partido Social Cristão) Ney Santos é investigado pela Delegacia Seccional de Taboão da Serra (Grande SP) desde junho.
A polícia suspeita que ele tenha ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Para tentar obter votos dos parentes de presidiários ligados à facção, Santos também os ajudaria com cestas básicas e transporte para visitas às prisões nos finais de semana, segundo a investigação.
Policiais cumpriram ontem 13 mandados de busca e apreensão em locais vinculados a Santos e seus "laranjas" -dois parentes, Michele de Souza Lima e Ricardo Luciano Andrade dos Santos, ex-frentistas de seus postos.
Foram apreendidas centenas de caixas com documentos das empresas de Santos e até uma Ferrari, avaliada em R$ 1,4 milhão, uma coleção de relógios importados e máquina de contar dinheiro.
A Justiça também decretou o sequestro de todos os bens do candidato pelo PSC.
VIDA DUPLA
Camisa social, sorriso e o carimbo "ficha limpa" abrem a página de Ney Santos na internet. Nas ruas, um Porsche e uma camionete Mitsubishi L200 são usados para divulgar o nome do candidato.
No site, em que o político promete melhorar a saúde pública, nem sinal do ex-detento Claudinei Alves dos Santos, 30, o Nei Gordo.
No submundo do crime, Santos era Nei Gordo. Após sair da prisão, uma cirurgia de redução do estômago tornou o apelido sem sentido.
Em setembro de 2003, Santos foi preso em flagrante acusado de roubar malotes de uma empresa de valores.
Em primeira instância, Santos foi condenado, ficou dois anos preso, mas acabou absolvido pelo TJ de SP.
Desde então, montou a rede de postos de combustível, comprou mansão de R$ 2 milhões em condomínio fechado e se lançou na política.
Santos juntou em menos de quatro anos um patrimônio de mais de R$ 100 milhões, segundo estima a polícia paulista -e pretende investir 10% do total na corrida por uma vaga na Câmara.
Algumas das suspeitas são que Santos use os postos para vender combustível adulterado com a adição de água para "multiplicar" o produto.
A "laranja" Michele e seu marido, Marcos Pereira Dias, confirmaram ontem à polícia que Santos fez vendia combustível adulterado.
Um dos homens que escolta Santos é um policial civil que pediu férias do Estado para segui-lo.
MILHÕES
A polícia também sabe que recentemente uma rede de supermercados ofereceu R$ 35 milhões para comprar seus postos, mas Santos recusou a oferta -seus postos vendem 5,5 milhões de litros de combustíveis a cada mês.
Posto foi vendido para suspeito de roubos
DE SÃO PAULO
O candidato a deputado federal Ney Santos vendeu um de seus postos de combustível para Paulo Pinheiro da Silva, o Baia, que foi já preso acusado de roubar relógios de luxo em áreas nobres de São Paulo e também investigado por ajudar o candidato a lavar dinheiro.
Silva repassou o posto para seu cunhado José Valdevan de Jesus Santos, hoje vereador em Taboão da Serra (Grande SP), conhecido como Valdevan Noventa, outro político já investigado pela polícia por elo com o PCC.
Em setembro de 2009, a Folha revelou que Noventa era investigado sob suspeita de ajudar traficantes da favela Paraisópolis (zona sul de SP) a lavar dinheiro numa cooperativa de transporte coletivo alternativo.
Noventa é o diretor financeiro do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de SP. Ele não foi localizado ontem, mas sempre afirmou que seu nome foi ligado ao PCC por atuar em defesa de donos de micro-ônibus.
Hoje, um dos aliados políticos Santos é Quinzinho Pedroso, candidato a deputado estadual pelo PDT e ex-prefeito de Cotia (Grande SP), já investigado pela PF suspeito de desviar verbas públicas.
Pedroso foi procurado ontem. Seu assessor Maurício André disse que o candidato não sabia dos possíveis problemas criminais de Santos e que o ex-prefeito tem outras 40 "dobradas" políticas. (AC)
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