domingo, 13 de junho de 2010

Se José Serra fosse eleito (mas não será),


Se José Serra fosse eleito (mas não será), ganharia de presente um país que o PSDB, desacostumado ao êxito, jamais sonharia em construir com esforço e competência próprios – como provou em seus governos municipais, estaduais e federal. Poria as mãos num Brasil reformado, sólido e próspero, com US$ 250 bilhões em caixa e imensas obras de infra-estrutura em andamento que o fariam sentir-se 100 vezes maior que um mero gerenciador do anel viário paulista da famiglia PSDB. Um país com um mercado interno aquecido e com 27 milhões de novos consumidores emancipados nas políticas sociais. Um país que gerou 15 milhões de empregos em 8 anos e um mercado de crédito consignado superando a casa de R$ 1 trilhão.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), teria uma arrecadação de impostos e tributos federais da ordem de R$ 80 bilhões mensais para devolver à sociedade em forma de serviços. Arrecadação ascendente, resultante do excelente desempenho da economia deixado pelo seu antecessor.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), levaria ainda um sentimento popular de patriotismo renovado e esperançoso que – somado ao trunfo catalisador de sediar uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos – o faria sentir-se um imperador romano.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), tudo isso saberiam muito bem capitalizar em benefício próprio o PSDB e a elite conservadora, conduzidos pelo seu novo presidente, especialista mor em se apropriar dos créditos de feitos alheios. Assinariam seus nomes nos eventos esportivos, nas obras do PAC em andamento, no sucesso internacional do país, cobrindo os verdadeiros créditos com a cumplicidade do PIG – sócio incansável, dedicado e afinado às causas de ambos – que cuidaria da tarefa de reescrever a história, reduzindo os mandatos do presidente Lula a uma insignificância extrema.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), teria estatais suculentas, prontas para o mercado das trapaças privatizantes conhecidas no passado pelo codinome “enxugamento do estado” ou “estado mínimo”. Trapaças travestidas de benefícios à máquina administrativa e à “nação”, orquestradas pelos mesmos maestros do período FHC, que executariam a mesma marcha fúnebre durante a sutil diluição do patrimônio brasileiro. Entre elas, é claro, estaria a grande vedete, a peça mais cobiçada a ser levada ao abate num leilão macabro de cartas marcadas: a Petrobrás. Valorizada pelo pré-sal, a empresa seria ofertada na mesma bandeja da negociatas engavetadas desde o primeiro mandato de FHC e para as mesmas multinacionais que há anos salivam em torno deste tesouro brasileiro. Negociata que movimentaria rios de dinheiro, atrairia à surdina dos bastidores os mesmos intermediários comissionados que enriqueceriam da noite para o dia. Tramóia que iria restabelecer o duto de escoamento das riquezas do nosso solo para as mãos dos mesmos banqueiros internacionais, ávidos por capital fresco que venha a socorrê-los na recente crise da qual ainda tentam se recuperar.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), não se faria de rogado: negaria o Mercosul e seus “indiozinhos caboclos”, realinhando suas prioridades financeiras a Wall Street, como nos velhos tempos. Romperia com austeridade quixotesca os laços com os governos populares latino-americanos exigindo a deposição de todos os seus presidentes aos quais acusaria de ditadores golpistas e lideraria suas nações em caravana orgulhosa rumo ao lar da velha, gentil e maternal esfera de influência do Tio Sam.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), se esforçaria em repetir a medíocre e desastrosa gestão frente ao governo de São Paulo sem obter êxito de imediato: a robustez econômica e estrutural deixada pelo seu antecessor levaria dois mandatos para ser totalmente dilapidada, pois, diferentemente de São Paulo, o país não lhe teria sido entregue já estagnado pelo fracasso dos governantes anteriores que “casualmente” pertenciam ao seu próprio partido.
Se José Serra fosse eleito (mas não será), depois de extinguir ou renomear toda a obra de seu antecessor, e quando o país já estivesse devidamente “devolvido” ao século 20, pouco lhe importaria fazer sucessor, compromissado que sempre foi exclusivamente com seu próprio umbigo. Assistiria debochadamente aos caciques furiosos do PSDB/DEM digladiarem-se para ocupar seu trono, sabendo que, depois de todo o estrago feito nas areias estéreis de sua inépcia, a esquerda recuperaria o país para tentar, novamente, reparar os enormes danos deixados pelo seu governo.
Se José Serra fosse eleito (mas não será) – enfim – contrataria algum editor de livros de auto-ajuda para escrever sua última fraude: a biografia de “Um brasileiro vitorioso”. O texto seria tão épico e fantasioso que até ele, em processo de senilidade avançada, acreditaria finalmente que é o autêntico “O Cara”. Título ao qual alguns historiadores da pocilga colocariam uma destacada ressalva: que, em verdade, seu êxito só foi alcançado graças às políticas econômicas e estruturais deixadas pelo antecessor de seu antecessor: o inesquecível visionário Fernando Henrique Cardoso!

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