segunda-feira, 21 de junho de 2010

A FOLHA DE SP NÃO PERGUNTOU: QUAL FOI A MARCA DA GESTÃO SERRA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO PAULISTA? ALGUEM SABE?


Do blog do Favre

Hoje é segunda, Serra foi sabatinado pela Folha. Foi o único que estudou durante a semana e a mesa examinadora não questionou em nenhum momento o aluno.

Na chamada Sabatina. O formato da entrevista é muito bom. Os jornalistas perguntam e o candidato responde e pode explicitar seu ponto de vista e aprofundar nos temas tratados.

Diferentemente dos debates na TV, onde as respostas são questionadas pelo adversário, a sabatina não deu lugar ao contraditório. Por outro lado, dando mais espaço para o entrevistado explicar seu ponto de vista, permite ao ouvinte entender melhor a exposição do candidato. Pareceu uma dissertação.

Como ninguém questionou ou contestou suas opiniões, nem as confrontou com os fatos ou com sua atuação no governo FHC, ou no governo estadual, eu me permito levantar algumas das questões que, no meu entender, teriam merecido debate.

Por exemplo, Serra não concorda com juros altos, mas não explicou como faria para que eles diminuam ainda mais do que tem diminuído durante o governo Lula. Sua oposição fica no patamar do desejo, compartilhado pela imensa maioria da população.

Quando sai da generalidade sobre o assunto, crítica as decisões tomadas pelo BC durante a crise, mostrando que teria forçado o BC a agir diferentemente. Qual teria sido o resultado? Difícil de saber.

Mas o resultado da maneira com que o BC e o governo Lula agiram sim dá para verificar. Brasil foi o último a entrar na crise e o primeiro a sair. O emprego recuperou, até mesmo antes que a economia em seu conjunto, e hoje, diferentemente da Europa e os EUA, o país cresce de maneira robusta. O mundo saúda a performance do país e, a contramão, Serra é o único que pretende que o governo e o BC erraram.

Mas não é só nesse quesito que Serra se choca com a realidade. Ele afirma também que o país sofre uma desindustrialização e dá como exemplo a exportação de celulose para China, que retorna transformada em papel. O Brasil nunca fabricou papel e sempre exportou celulose, seu mercado não tinha escala suficiente para que empresários privados passassem a fabricar papel no Brasil. Talvez isto tenha mudado agora.

Curiosamente ele não falou da indústria naval, e nenhum jornalista o questionou sobre isto, mas teria sido interesante que ele explicasse o fenomento da suposta desindustrialização a luz da indústria naval. Alguém podia ter lembrado a ele, mas aparentemente os jornalistas estavam desmemoriados, que a indústria naval tinha quase desaparecido durante o governo FHC e a Petrobras só comprava suas plataformas no exterior. Hoje, Brasil é a quinta potência no mundo em indústria naval.

Não é só a indústria naval que sumiu da reflexão da Sabatina, o próprio governo FHC só foi evocado pelo próprio candidato quando conveniente para se atribuir benfeitorias do passado. Foi assim quando ele se auto denominou contribuinte decisivo na aplicação do Proer pelo governo FHC para salvar os bancos.

Na sabatina da Folha, Serra foi menos elogioso ao governo Lula e não repetiu que não considera como inimigos seus adversários. Eles foram tratados permanentemente de “terroristas” cada vez que instado a responder a alguma crítica.

Assim ele rejeitou o “terrorismo” sobre o Bolsa Família, afirmando que sempre agiu para manter o que dá certo. Mas nada diz sobre o seu partido afirmar todos estes anos que o Bolsa Família era assistencialista, um puro programa eleitoreiro e que batizaram até de “bolsa-esmola”. Essa gritaria e desprezo pelo combate a pobreza, agora some do discurso e como quem troca uma camisa, os mesmos proclamam juras de amor eterno ao mesmo programa.

Também de “terrorismo” foi qualificado o debate sobre as privatizações, o candidato tucano se defendendo de qualquer intenção privatizante a esse propósito. Como os jornalistas não lembraram, ele não teve que dar explicações sobre o programa de venda do patrimônio estadual feito pelo tucanos em São Paulo e nem pelas repetidas tentativas feitas por ele mesmo para vender a Cesp, por exemplo.

Questionado sobre a venda de Nossa Caixa, primeiro Serra tergiversou. Afirmou que não se tratava de uma privatização, porque o banco não tinha saído do domínio público. Imediatamente depois, porem, o fundo de seu pensamento aflorou com limpidez indiscutível. “O Estado não tem que ter banco comercial”, o dinheiro de sua venda foi para saúde e educação que é a função natural, segundo o tucano, do Estado. Ninguém perguntou se essa filosofia se aplicaria ao Banco do Brasil, que também é um banco comercial. Talvez os jornalistas temessem serem acusados de terroristas ou de propagarem o trololó petista, com o qual Serra indica, aos que julga como impertinentes, que não argumentará sobre o assunto.

Como eu não me sinto intimidado, volto a questionar. Serra venderia o Banco do Brasil? Ou transformaria a instituição em um BNDES bis, deixando a parte comercial exclusivamente em mãos do Itaú, Bradesco e outras instituições privadas?

Outro tema não debatido, mas sobre o qual Serra falou, foi a questão das drogas. Ele é contra e diz isso claramente, mas ninguém perguntou se a defesa que FHC faz da discriminalização da maconha ou a posição de Serra contra, foram objeto de qualquer resolução partidária no PSDB? Ninguém perguntou sobre os problemas do trafico especificamente no Estado de São Paulo, sobre sua ação contra este flagelo durante seu governo. Serra pode assim simplesmente voltar a acusar o governo da Bolívia de fazer corpo molhe para o trafico de cocaína e ignorar que o principal produtor de cocaína no mundo é a Colômbia, o que não faz do governo colombiano cúmplice dos traficantes. Ninguém diz para Serra que não é de estadista acusar um governo, sem provas, de ser tolerante com o trafico com base no fato que este tem crescido no país em questão.

Um ouvinte, mais incisivo, questionou Serra sobre o abandono dos seus mandatos executivos, sem concluí-los. Interessante que quando Serra evocou sua trajetória, experiência e sua biografia, não teve ninguém para questioná-lo sobre esse fato. Proclamou publicamente e assinou uma carta se comprometendo a cumprir seu mandato como prefeito, e largou o cargo para outra disputa eleitoral, apenas um anos depois.

A explicação do candidato deve ter estuporado mais de um. “Não cumpri os mandatos até o fim, mas Kassab e Goldman continuaram, aplicando nosso programa integralmente”. O cinismo da resposta só não chocou os jornalistas e a platéia favorável que acompanha o evento. Para os milhões de eleitores aos quais Serra fez a promessa, a resposta mostra desprezo. Proclamado no dia em que o próprio governo estadual reconhece que só cumpriu 14 das 30 metas para o transporte, a afirmação de Serra é um verdadeira provocação contra a inteligência. Mas ninguém na Sabatina tinha lido o Estadão, onde a questão do transporte foi publicada com destaque hoje.

Convidado a encerrar o evento, Serra aproveitou para agradecer os organizadores e repetiu várias vezes que o debate é frutífero. Quando ele participar do primeiro seguramente será, mas tudo indica que não será ameno para o candidato tucano.

Luis Favre

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