segunda-feira, 5 de abril de 2010

Poder das Facções pode inviabilizar voto do preso

O voto de preso provisório, previsto em resolução aprovada pelo TSE, pode se tornar inviável, segundo três ministros do STF. Carlos Ayres Britto, presidente do tribunal eleitoral, Ricardo Lewandowski, seu sucessor, e o ministro Marco Aurélio Mello endossam as críticas de juízes e diretores de presídios sobre a possível interferência de facções criminosas na votação.

Para ministros de STF e TSE, preso votar pode ser "inviável"

Magistrados preveem logística complicada e temem influência de facções criminosas

Apesar das dificuldades, ministros dizem que o voto é direito dos presos provisórios e que portanto a medida deverá ser implementada


FELIPE SELIGMAN
PAULA LAGO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) admitem que o voto de presos provisórios, previsto em resolução aprovada no mês passado, pode ser "inviável".
À Folha, Carlos Ayres Britto, presidente do tribunal eleitoral, Ricardo Lewandowski, seu sucessor, e o ministro Marco Aurélio Mello deram razão ao temor de diretores de penitenciárias e magistrados paulistas com possível interferência de facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, no voto de presos.
Segundo os ministros, o voto de presos provisórios pode não acontecer onde houver "problemas insuperáveis" e "argumentos robustos" contra a realização de eleições nos presídios. Eles afirmam, porém, que é um direito dos presos e que, portanto, deve ser cumprido.
No mês passado, o TSE aprovou resolução determinando a instalação de seções eleitorais em estabelecimentos penais e em unidades de internação de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.
Marco Aurélio é o mais crítico. Ele diz que a logística para o voto dos detentos é "inviável". "Apesar de [os provisórios] terem o direito, gostaria de conhecer como vão lograr colher esses votos. Fisicamente é difícil. Terá de ser feito um levantamento para saber quem são os eleitores e de quais seções eleitorais", afirma o ministro.
Sobre a eventual influência de facções criminosas, Marco Aurélio afirma que "é outro aspecto a ser analisado, já que esses eleitores estão em situação de inferioridade, onde prevalece a lei do mais forte, por mais que a autoridade queira evitar".
Ayres Britto e Lewandowski admitem que, no caso de São Paulo, pode haver influência de grupos criminosos nos presídios e dizem que o TSE pode até não realizar eleições em alguns locais, caso o Tribunal Regional Eleitoral paulista apresente "argumentos robustos".
"Se os TREs demonstrarem, até pela preocupação da influência demasiada de grupos organizados, a inviabilidade do voto de modo a que não se assegure nem sequer o sigilo ou a integridade física do eleitor, aí não tem o que fazer", afirmou Britto. Para ele, no entanto, a preocupação não pode inviabilizar o exercício de um direito. "Não é pelo receio do abuso que se vai proibir o uso."
Já Lewandowski diz que os tribunais regionais devem demonstrar que existem "problemas insuperáveis", mas precisarão apresentar alternativas.
"O voto dos presos provisórios constitui um direito fundamental garantido nas constituições. Ocorre que em São Paulo temos grandes problemas para que esse direito se concretize. Temos cerca de 50 mil presos provisórios, 5.000 menores e ainda o crime organizado", disse o ministro.
O Brasil tem 473 mil presos, sendo 152 mil provisórios. Um terço deles, ou 52,5 mil, está no Estado de São Paulo.

Um comentário:

Unknown disse...

O Ministro Marco Aurelio tem toda razão, é uma temeridade o voto do preso, tendo em vista as facções, não se pode desprezar o poder de fogo desses agentes. Eles, aos poucos estão conseguindo o que se propuzeram.
Que Deus ilumine nossos juristas.