domingo, 7 de fevereiro de 2010

Criminalidade avança na região em 2009

Mapeamento feito pela Folha mostra alta no nº de furtos e roubos de veículos em 48 locais; homicídios crescem em 42

Em Guará, que zerou os homicídios em 2008 pela primeira vez na década, foram registradas quatro mortes no ano passado


LEANDRO MARTINS
DA FOLHA RIBEIRÃO

A criminalidade avançou na maior parte das cidades da região de Ribeirão em 2009, tanto no caso dos homicídios dolosos (com intenção) como nos registros de crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos de veículos. Das 89 cidades da região de Ribeirão, em 42 houve aumento dos assassinatos na comparação com 2008; em 26 os crimes se mantiveram estáveis e em 21, houve queda.
Nos casos de veículos roubados ou furtados, o número de cidades com crescimento das ocorrências é ainda maior: 48, ante sete com estabilidade nos casos e 34 com queda.
Os números são da Secretaria de Estado da Segurança Pública. Quando se avalia o universo das 89 cidades da região, os homicídios cresceram 28,27% de 2008 a 2009, enquanto os furtos e roubos de veículos avançaram 32,60%.
Das cidades mais populosas, a pior situação foi registrada em Franca, onde os homicídios cresceram 81,82% -de 11 para 20. Porém, o avanço da criminalidade não é uma exclusividade de cidades maiores.
Muitos municípios menores colaboraram de forma decisiva para que na região os assassinatos tivessem alta bem acima da média estadual, de 3%.
Um dos exemplos é Guará, com cerca de 20 mil habitantes, que em 2008 havia conseguido zerar os assassinatos pela primeira vez na década, mas que no ano passado registrou quatro casos. Em Barrinha, as mortes saltaram de uma, em 2008, para cinco, no ano passado.
Um dos homicídios que chocaram a cidade de 27 mil habitantes, em julho do ano passado, foi o assassinato do jovem Daniel Constantino, 22, que foi morto com cinco tiros.
A Folha esteve em Barrinha anteontem e ouviu de moradores que Constantino era conhecido entre os jovens e, por isso, a morte violenta marcou a cidade. Procurada, a família da vítima não quis se manifestar. Segundo o delegado de Barrinha, Benedito de Castro Filho, o caso segue sem esclarecimento. De acordo com Castro Filho, há crimes sem solução, como uma mulher que foi encontrada em um matagal com sinais de estrangulamento.
O pesquisador Guaracy Mingardi, que integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse que a dificuldade no esclarecimento dos casos é uma das causas para o aumento das ocorrências. "Homicídios têm múltiplas causas, mas uma parte [do aumento] pode ter a ver com a deficiência da investigação", afirmou.
Já nos crimes contra o patrimônio, há exemplos de crescimento bem acima da média, como em Jardinópolis, onde os furtos e roubos de veículos cresceram 154,55%. Em Ribeirão, a alta foi de 51,24%. Segundo Mingardi, é comum cidades maiores concentrarem, proporcionalmente, crescimento de crimes contra o patrimônio. Em cidades menores, os ladrões são mais "visados", afirmou ele.

"Interiorização da droga" fez a violência crescer, diz especialista


DA FOLHA RIBEIRÃO

A trajetória de interiorização dos casos de homicídio, reforçada pelas estatísticas criminais de 2009, já vinha sendo detectada, segundo o pesquisador Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública.
De acordo com ele, um dos possíveis motivos foi a também interiorização de outros problemas ligados à criminalidade, como o consumo de drogas, principalmente o crack.
Delegados de municípios menores ouvidos pela Folha reforçam que as drogas têm causado dificuldades mesmo em cidades onde essa realidade era mais distante. "O tráfico tem uma ramificação bárbara para outros crimes, é realmente a locomotiva [da violência]", disse o delegado Luís Carlos Silveira, de Orlândia.
Porém, essa tendência de interiorização, segundo Mingardi, não pode ser apontada como único motivo para o aumento dos homicídios. "Há causas múltiplas", diz o pesquisador.
Na quinta-feira, o governador José Serra (PSDB) atribuiu ao desemprego e à crise financeira internacional o aumento de homicídios. Mas, segundo Mingardi, a crise também não é o único fator da alta.
"Quando estava caindo o crime em geral, era a polícia que tinha essa virtude. Agora, quando a coisa fica ruim, não é mais a polícia, é a questão social? É aquilo que falam no futebol, que a vitória tem muitos pais e a derrota é órfã", disse.
O CPI-3 (Comando de Policiamento do Interior) da PM disse, em nota, que muitos dos assassinatos cometidos na região no ano passado foram de ordem passional. "E, para esse tipo de delito, o problema é social", afirma trecho da nota.
Já em relação ao aumento de veículos roubados ou furtados, a PM diz que desenvolve operações específicas. "Porém, lembramos que o furto e roubo de veículos não vão acabar enquanto existirem pessoas dispostas a comprarem produtos oriundos desse tipo de crime."

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