Por uma área de cerca de oito campos de futebol ao redor da Penitenciária Edgar Magalhães Noronha (Pemano), em Tremembé, no interior paulista, crescem mais de cem mil árvores nativas, de Mata Atlântica e exóticas. No manejo das mudas, no trabalho com a terra e na direção dos tratores estão 53 detentos da cadeia que se ergue ao lado, com seus muros, arames farpados e torres de vigilância. Eles trabalham no projeto Florestas Inteligentes, uma iniciativa privada que utiliza a mão de obra de reeducandos para cultivar plantas destinadas ao reflorestamento e à compensação ambiental.
Os presos que trabalham na empresa, que fará seu lançamento ao mercado no próximo dia 21, estão enquadrados no regime semiaberto e foram selecionados pela direção da penitenciária com base em bom comportamento. São todos homens. A cada três jornadas de oito horas trabalhadas, eles reduzem a pena em um dia. Mais, recebem um salário mínimo todo mês e uma poupança mensal no valor de 10% dos vencimentos para ser resgatada quando deixarem a cadeia em definitivo. Para o diretor da Florestas Inteligentes, Paulo Franzine, o resultado para o presídio é claro: "Não houve nenhuma rebelião desde que estamos lá, em maio do ano passado."
Para colocarem o pé no barro, os detentos passam por cursos de qualificação - restauro florestal, horticultura, jardinagem e paisagismo - ministrados por alunos de mestrado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP).
Depois, são destacados para trabalhar na fábrica própria do substrato que é utilizado no cultivo e na produção de aproximadamente 130 espécies de árvores que serão vendidas a um preço médio de R$ 10 cada. Já há um estoque de 1,5 milhão de mudas prontas para a venda.
Processo de ressocialização
A cadeia produtiva das mudas envolve também comunidades carentes, onde moradores são recrutados para colher sementes no meio ambiente e vendê-las para a Florestas Inteligentes. Essas pessoas recebem treinamento de manejo das sementes e equipamentos próprios para a coleta.
O projeto também procura envolver a família do detento em seu processo de ressocialização. Material escolar que seus filhos necessitam são doados pela empresa, para criar "uma relação de ensino e reaproximação da família" com o presidiário. "A empresa produz soluções sócio-ambientais", resume Franzine. "Produz mão de obra qualificada no sistema carcerário e monta salas de aula dentro do presídio", completa.
O projeto é desenvolvido em parceria com a Fundação Professor Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap), entidade vinculada à Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. E mesmo com pouco tempo de atividade, Franzine já faz planos de expansão do modelo de negócios para outras cidades. Segundo ele, há conversas com penitenciárias do oeste paulista e até de um outro Estado brasileiro, que ainda não pode ser revelado.
"As franquias são estratégicas para a redução dos custos de transporte das mudas", diz o diretor da empresa. "Mas a proposta é também mostrar que os presos precisam de ressocialização por meio do trabalho e da família."
Presos trabalham em projeto que produz plantas em SP - geral - geral - Estadão
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